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Cabelos na Bolsa



Algumas ações humanas merecem o estopim de uma apoteose, o reconhecimento num desfile público, tiros de canhão, honrarias militares. Não, ainda não descobriram a vacina do Aids. Nem um remédio eficaz contra a monotonia e gente enfadonha.



Datas também merecem destaque: 15 de novembro, o 4 de julho americano, o dia do perdão judeu (Yom Kippur), o desembarque dos Aliados na costa da Normandia em 6 de agosto de 1944; a todas essas datas memoráveis acrescentarei uma outra de sumíssima importância, porque será lembrada daqui a 30 séculos: 18 de Janeiro de 2007.



Nesta data, na cidade do Rio de Janeiro, três ladrões, para manter a rotina urbana, assaltaram um ônibus. Mirna Marchetti, 22 anos. Estava ela sentada na poltrona de um ônibus da linha 928 (Marechal Hermes-Ramos). Um homem segurou seus cabelos, de rabo de cavalo, e o cortou com uma tesoura. Uns cabelos longos, luminosos e originais.



Mirna é a nossa Joana D´arc. Não que ela mereça a fogueira como a herética e, contradição humana, beatificada heroína francesa; não. Ela é o marco-zero de uma dessas idéias que são verdadeiros achados de engenhosidade cerebral de se ganhar a vida: roubar cabelos das moçoilas. “Um puxou a bolsa e o outro cortou meu cabelo. Foi tudo muito rápido". Disse Joana, que pensava ser apenas Mirna.



Já imagino as pistolas aposentadas. Se ainda vigorasse a moda do velho-oeste teríamos em vez de cartucheiras, tesoureiras: quem seria a tesoura mais rápida do oeste? Imagino o ladrão ao chegar a casa da mãe dele (sim, ladrões têm mães, não são filhos...) e, por descuido, deixar o produto do roubo, sei lá, por sobre a pia. “O que é isso, filhinho? Cabelo de mulher?” “É, mamãe. Vou usar para uma peça” – “E quem lhe deu os cabelos, vai me dizer que foi a Margarida da Quitanda?” – “Mãeee, não amola né?”.



O preço de 40 cm de cabelos varia de R$ 50 a R$ 300, dependendo da qualidade, segundo consta na matéria do jornal. Mais: se os fios forem “virgens”, valem muito mais. A abordagem do meliante será esta: “Ou o cabelo ou a vida!”. Dia seguinte tá lá a moça contando sua aventura, sem um dos símbolos da auto-estima, o cabelo, uma invenção feminina.



Será o Benedito uma coisa dessas? Aliás, por que o Benedito?; nada disso, aqui quem manda sou eu; vai ser no feminino. Claro está que não irei botar “será a Rapunzel?” para não espertar a cobiça de algum leitor roubador de cabelo que ganharia uma nota com as longas madeixas trançadas da moça. Será a Benedita?.




Escrito por Alex Menezes às 22h21


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