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Batman: o Cavaleiro das Trevas Ressurge

O novo filme do Batman, que encerra a trilogia do diretor Cristopher Nolan, é um assombro de perícia não apenas cinematográfica, mas também uma perícia na arte de complexar o simples sem razão ou necessidade.


O homem-morcego é tão estropiado por complexos que não parece um herói, mas um fantasma. Para quê infligir uma personagem originalmente de HQs, criada para divertir sem dor, numa montanha de pesadelos psíquicos, não obstante o trauma do assassínio dos pais? É dose.


O filme também é de um enredo tão sem sentido e inverossímil do ponto vista da genealogia do herói, que fiquei com saudade do hoje tosco, à época sensacional, seriado dos anos 1960 em que Burt Ward fazia um Batman barrigudo enfiado numa fantasia que fazia morrer de rir até os vilões.


Mas aquilo era genuíno, verdadeiro, factível dentro da fantasia a que se propunha; já o novo Batman, não. Gotham City não cabe mais nas suas ambições: agora ele quer salvar o mundo; é o Exército Americano que entra em ação; não é mais o comissário Gordon que faz o pronunciamento à cidade e sim o presidente americano, vá!


O vilão com nome de poeta, “Bane”, é mau, mas é bom (ou nenhuma coisa nem outra); intenta fazer uma revolução à moda Fidel Castro, com que objetivo não se sabe; sua máscara horrenda, uma redução da do Jason de Sexta-Feira 13, que alguns críticos chamaram de “aterradora”, revela-se patética e disfuncional. E no final, o que acontece com ele? Morre, desmaia, se reabilita num mosteiro?


A sobriedade letal que fez do segundo filme da série um marco não só entre os filmes de super-heróis, mas também os de ação em geral, foi substituída pela paranoia que continua a contaminar o mundo pós 11 de Setembro. É o terrorismo, é a ameaça, é o vírus humano rondando o futuro da civilização. Tudo isso naturalmente cabe na linguagem do cinema, mas na pele de um herói parece forçado e artificial.


No entanto, há surpresa, como o Coringa de Heath Ledger, que dá o suporte preciso para a atuação competente de Cristian Bale; a belíssima Anne Hathaway (só para efeito de curiosidade, o mesmo nome da esposa de Shakespeare) dá um show à parte, sedutora no traje colante ao corpo que delineia curvas sensacionais, amparada numa atuação segura e hipnotizante, faz dela um dos poucos pontos altos do filme, que não vai deixar tanta saudade pela trama obscura, pela ambição de extrapolar no herói a sua vocação municipal e querer fazer com ele esteja muito mais adequado e à vontade num divã do que desvendando crimes na Bat Caverna. O diretor do filme deveria ser Freud. Pow! Pluft! Blow!

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