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Assim Corre Mundo – A Pomba da Bahia



Plus ultra. “Era um homem de ossatura política, de verticalização” assegurou César Maia, prefeito do Rio. Talvez apenas Spinoza, ou vá lá, Marilena Chauí possam explicar o que Maia quis dizer. “É uma perda irreparável”, lamentou Romeu Tuma, presidente, veja mesmo, do Conselho de “Ética” do Senado. Meu Deus. Por Athena... aí vem mais: “Tínhamos temperamento diferentes, mas fomos amigos a vida inteira”, propagou José Sarney compreensivelmente. “Ele ajudou decisivamente o Brasil e o meu governo”, agradeceu FHC, que pode ser vaidoso como um pavão; mas não é ingrato. “Sentirei saudade dos grandes enfretamentos que tivemos no Congresso”, confidenciou publicamente Aloízio Mercadante. “Ninguém fez mais pela Bahia do que ele”, recitou Dona Canô. “Deixa um vazio muito grande”, Renan Calheiros teve a audácia de dizer. “Foi um homem público com a marca da coragem” falou o valente Alckmin. Plus ultra! plus ultra!


A morte faz notórios bens ao morto. Mesmo quando o morto em questão é um político que não amava outra coisa senão o poder; não importando a bandeira; podia ser militar; civil; de esquerda, direita, centro; não importa: o poder não tem sede de ideologia. A Bahia, Estado que “ele amou como nenhuma outra pessoa amou” levou 15 mil de seus 13 milhões de habitantes para prantear a morte do senador que se serviu muito mais do poder do que com o poder serviu ao povo (baiano ou húngaro); 00,8% da população; Castro Alves, outro ilustre baiano, levou em 1871 apenas um sapateiro e o cocheiro – este necessário -, para seu funeral e passagem para o inverso do inferno, se é que estão certos os prognósticos do povo e da igreja.


Piadas correm a dizer que ele, o senador, dará grandes trabalhos e aborrecimentos ao tal do Satanás, até então governador-geral no inferno (inferno rima com infraero?); é imprevisível saber se a situação da Terra irá piorar caso ele assuma o comando daquele Congresso efervescente. O certo é que, acostumado ao cargo de senador “vitalício”, queira estender para as profundezas sua influência reclamando para si o título de “senador mortalício” uma vez que, se existir inferno e morrer seja apenas outro modo de viver, deve existir também política ali e o senador não poderá ser mero coadjuvante em qualquer hipótese porque, não havendo política, ele construirá uma. A julgar pela atual paisagem política do mundo a presidência deste hipotético Senado deve estar sendo exercida por Nero, quando menos por outro sádico que usou de habilidade para apagar seu nome da História e escapar de ser achincalhado por mim.


O senador era um homem muito, muito rico. Não vou dizer “podre de rico” porque a primeira parte desta expressão pode concorrer com sua biografia e não quero macular o legado do homem que enriqueceu tanto usando a política enquanto seu eleitorado empobreceu tanto sendo usado por ela. O lema que orna a bandeira da Bahia é "Sic illa ad arcam reversa est" (e assim a pomba voltou à Arca), menção ao gênesis que quer dizer muito mais do que supunha Moisés ao escrever o primeiro livro da Bíblia e é assaz apropriada à ocasião; essa “pomba” que foi o senador retornou à arca, que é um nome poético que se dá à sepultura; depois de flanar por sobre o comum dos homens, angariando simpatias de uns à força de os cooptar para si, favorecendo uma minoria de míseros acolá para lustrar em vida sua referência póstuma, fornicando com poderosos de quaisquer tons; e assim foram consumidas quase 8 décadas de vida, iludido por embaçar os outros se embaçou a si mesmo. Perdoem-me meus diletos e sinceros dirigentes, como os sacerdotes judeus eu não sei o que faço/digo, mas ele não me nos fará falta alguma.




Escrito por Alex Menezes às 16h09


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