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AS MAÇÃS

Que relação pode existir entre a maçã de Newton e a maçã de Eva? Nenhuma e todas. Vejamos. A dele era de fato maçã, dessas que, por enquanto, ainda dá em pé de macieira; a dela é, como a própria Eva, um mistério indescortinável. Ambas as maçãs mudaram o mundo, ou parte dele. Eva comeu da maçã por necessidade gastronômica e, quem pensa ao contrário disso, faz mau juízo da moça, ou ex-moça, dependendo da religião do leitor; já Newton, que era menos de comer e mais de pensar, viu a maçã despencar da árvore e desvirginou os segredos da natureza, até então obscuros e complexos, como as virgens. Eva fez do segredo guardado na fruta a desgraça humana e se não fosse tão gulosa, cá estaríamos nós gozando da ignorância dos mistérios da verdade e provavelmente sofrendo menos, o que seria um tédio. Imagine um mundo sem a delicadeza do sofrimento. Imagine. Triste descoberta a dela. São maçãs opostas; enquanto uma liberta, a outra oprime. Então, maçã por maçã fico com a que encontro na feira, que dependendo da estação tem preço módico e são destituídas de segredos e descobertas e se algum dia, numa dessas mordidas filosóficas, eu encontrar além do sumo da fruta algum segredo escondido, feito bicho de goiaba, mando-a embrulhada para o senhor Aristóteles que foi um dos culpados em fazer do homem o maior consumidor de segredos desse e daquele mundo.



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