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Antes de Partir: Os Últimos Dias

Por não estar à altura de uma aula dura de processo trabalhista assassinei-a e fui às pressas ver um filme tocante no cinema: “Antes de Partir” (The Bucket List) do diretor Rob Reiner com as costumeiras atuações sensoriais de Morgam Freeman e Jack Nicholson. O filme é um encanto. Tocante. Edward Cole (Jack) é um bilionário que é diagnosticado com câncer; Carter, personagem de Freeman, é um mecânico suburbano (pleonasmo?) idemente diagnosticado com a mesma doença do outro. Ambos se conhecem no leito do hospital e recebem juntos a notícia que não chocou Sócrates dois mil e tantos anos atrás: estavam com os dias contados. Depois da amizade, um desafio mútuo, ambos combinam fazer coisas máximas antes de partirem, e as fazem.


A velha questão da morte no filme é tratada com doses alopáticas de humor e resignação, mas não deixa de emocionar.


Lembro de Mário Covas, então governador de São Paulo, ao voltar de sua casa em Bertioga direito para o Hospital das Clinicas, o câncer a carcomer seu corpo já entregue à ruína. Sobrevoava a serra do mar no helicóptero do governo e desabafou melancolicamente: “É a última vez que vejo o mar...”.


Nunca mais esqueço.


Isso de ser obrigado a morrer após se deleitar com as delicias da vida e com os prazeres que uma boa e verdadeira amizade traz é realmente uma coisa aborrecível; é o combustível que assanha a fornalha dos que acham que a vida não tem nenhum sentido e, cartesianamente falando, não tem mesmo; fora isso só a fé consola, mas não responde uma questão elementar: para quê tanto tempo para tão pouca vida?


Se formos remontar as eras não somos nem um milionésimo de segundo; nossa insignificância não é apenas física se comparada ao infindo universo é também temporal, e tanto que fica difícil até para Stephen Hawking, o sucessor da cadeira de Isaac Newton em Oxford e o maior cérebro matemático desde Einstein, definir o que há mais no cosmo: se massa ou se espaço, a se considerar que a luz, como ensinou Einstein, também é massa; acho que o “éter” mais abundante nesta inconcepção chamada Universo é o tempo.


Todo dia a gente vai morrendo um pouquinho; todo dia é uma despedida de alguma coisa; fico mesmo nostálgico por saber que o dia de hoje, em que matei uma aula para ver um filme bobo não se repetirá jamais nos vindouros dias; as outras três pessoas dispersadas naquela sessão de cinema também se despediram daquele dia, provavelmente sem a minha intransigência melancólica; e assim a gente vai levando a vida usando como antídoto para suportá-la o ato de esquecer que cada dia a mais é na verdade um dia de menos.






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