Não sei porque essa brava gente brasileira gosta de viver entremeada com um pé na lama e outro na luxúria. Ruboriza-se com banalidades. Aquece a chaleira da indignação quando ela teria de ficar morna morna, igual àquela mulher fisicamente indecisa, que não é feia nem bonita: é uma simples água-morna. Não entendo e nem aceito nenhum alvoroço que não sejam filosóficos, morais, cívicos, ou sobre chicletes.
A atual ministra do Turismo e sexóloga Marta Suplicy (que, diga-se sem passagem, está na pasta certa a saber que é notório o turismo sexual no Brasil...) pediu para que os passageiros que esperam por longas horas nos aeroportos simplesmente, depois de estuprados pelo falo da espera, relaxem e desfrutem do prazer supremo daquele deus efêmero chamado orgasmo.
Foi um pandemônio. A ministra, eivada de boa intenção, teve de se retratar em nota oficial. Alea jacta est. (a sorte está lançada). Deveria ter tido ela, que parece-me ser uma espécie de César sem império e mais grave, sem o rio Rubicão. É incrível que a hipocrisia, esse estupendo bem imaterial que todos possuímos, ainda possa dar as cartas em pleno século 21.
O que qualquer cidadão ou cidadoa diz impunemente entre as quatro paredes ósseas do seu crânio é um sacrilégio se for transposto para o mundo exterior, repleto de vícios, códigos e que tais. O crânio é também um mundo. Um universo climatizado e não sujeito a intempéries interlocutórias. Dentro dele rumina-se um matricídio um deicídio sem o aborrecimento dum processo moral ou penal. É o melhor dos mundos. (“tudo está pelo melhor, no melhor dos mundos possível”, vaticinou o grande Leibniz)
Todavia, eu acho ser mais perigoso pensar do que falar. A fala é um atributo quase autônomo e que desafia as leis da física porque escorrega laringe acima. A fala, vinda ao mundo sem muito cálculo, se torna 30% menos nociva. Já o pensamento é perigoso. O senador fora-da-lei Renan Calheiros pouco falou. Digeriu* mineiramente a jornalista e, do banquete de suas cochas, nasceu um rebento que abalou os fundamentos da República. Afrodite nasceu das espumas do mar e abalou o Olimpo, mas sem escândalo e com carinhos de deusa marítima. Mitologia brasileira é árida demais para ser romântica.
*Não é grosseria. É que as pessoas se consomem hoje como que por necessidade gastronômica.
Escrito por Alex Menezes às 23h15
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