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A Minha Estrela




Não sei o leitor, mas eu tenho uma estrela. E ela está alojada na moldura da janela do meu quarto; não obstante tendo todo o infinito para fulgurar o seu brilho, ela só aprecia a minha janela e lá fica dependurada, fisgando meu olhar, calculando meus pensamentos. Nada entendo de astronomia, mas suponho que a terra, ao viajar em torno de si em rotações e translações, faz mudar a posição das estrelas no solo; menos a da minha.



Ezequias, rei de Judá, sentindo a morte aproximar-se, orou a Deus e Este lhe concedeu mais quinze anos de vida: “Assim, tornou o sol dez graus atrás, pelos graus que já tinha descido”. (Isaías 38:8). Há homens que privam da intimidade do Criador; outros, das estrelas.



Não, não tenho o poder do rei que fez recuar o sol para restituir sua saúde, nem quero recuar as estrelas, que é assim uma espécie de sol mais ausente; eu apenas tenho a companhia dela, que ainda quando o tempo nubla, lá fica ela, postada, boiada, como se se precipitasse para frente das nuvens ou, se temerária for esta minha concepção, julgo haver um túnel neblínio que libera a sua luz em meio à camada diáfana.



Há vez, à noite, em que olho para o alto e enxergo um pouco de céu degradê no meio da minha estrela, tal é seu brilho nas noites claras, filiais das noites estreladas de Van Gogh. E tal qual o amputado sente fisgar o membro extirpado, acordo pela amanhã e me sobressalto ao ver a abóbada azul apagada da minha estrela, sensação análoga à que temos quando fechamos os olhos prestes a receber o impacto iminente e o impacto não vem.



Temo pelo dia necessário da mudança de casa, (já morei em tanta casa que nem me lembro mais, apud R.R) e a minha estrela não me seguir ao novo lar que me amedo; mas tão próximos estamos que nem sei se ela é minha ou se sou eu que pertenço a ela – presunção infantil, pode ser, e pode até me condenar, mas só após ter a sensação de ter uma estrela só para si.



E todas as noites são assim, olho aquele ponto vago no espaço e me pergunto quantas alegrias aquela estrela já viu passar aqui embaixo; as tristezas dos desesperados, as agonias dos impérios, a cobiça prevalecer sobre a nobreza, a pétala dada à primeira namorada e aquela outra que se desprendeu e vagou pelos rios, até se transformar em peixes, conchas e pérolas; enquanto você se prepara para a rotina do seu dia, lá vou flertar com minha estrela, insistir para que ela me conte na língua “brilha-e-apaga” (um gênero de código Morse estelar) o que tem se passado com essa nossa terra, que anda aborrecida e de cabeça quente por causa dos maus inquilinos que a possui.





Escrito por Alex Menezes às 21h53


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