O Iraque se desmantela. Esfacelam-se as imensas opiniões acerca do conflito. Entre as tantas opiniões, a mais ingênua porque difundida, é a questão do petróleo. Prometo tentar concluir esse texto sem recorrer à frieza estatística dos números; números são âncoras usadas para rechear a lacuna de argumentos. Prometo, mas não garanto.
O EUA sempre fez guerra. Impérios fazem guerra. Os americanos não querem exportar democracia, consumir o petróleo iraquiano, nem nada disto. Guerras fortalecem impérios. Para um império, perder ou ganhar uma guerra é irrelevante. Diz a lenda que os americanos perderam a guerra do Vietnã. Bela perda: 50 mil baixas americanas contra 2 milhões de mortos vietnamitas; quem ganhou a guerra? A ideológica vá. Mas quem se importa com ideologia quando o que está em jogo são bilhões de dólares em armamentos que precisam ser usados?
É fácil falar mal do EUA. Todavia, ruim com ele, impossível sem ele. Sem EUA no comando, o mundo seria inviável; a Coréia do Norte invadiria a do Sul; após o Japão que por imposição americana, obrigou o país nipônico a esculpir na Constituição que não poderia ter um exército. Israel seria aniquilado pelos radicais árabes; Irã, Síria e Líbano, paises militar e politicamente irresponsáveis, dominariam o Oriente Médio, desequilibrando as forças da região. Toda a frágil estrutura tribal pan-africana se desintegraria; as guerras civis lá já existentes recrudesceriam; as repúblicas russas orientais entrariam em conflito imediato; Moscou faria uma perigosa coalizão nuclear com Pequim, na América Latina populista, milícias e guerrilhas tomariam o poder à bala, causando instabilidade em todo o continente do sul do México até os Andes; a Europa fragilizada seria invadida por uma turba do Leste cheia de ressentimento e ávida por vingança; só a França poderia (enfim!!) se defender, usando seu arsenal atômico como moeda de intimidação.
Esse seria o painel apocalíptico de um mundo sem uma força que vigie e controle, seja ela qual seja, anglo-americana, romana, grega, persa, ou babilônia. Se o mundo sangra com o poder sem precedentes do EUA sobre o planeta, ouso dizer que a hemorragia seria inestancável sem ele.
Ingenuidade também é dizer que “houve erros estratégicos” na guerra. A guerra em si é um erro – ainda quando necessária se é para arrancar do poder um satânico tirano como Saddam -. Não há erro algum. Como dominar um povo indócil, cheio de diferenças étnico-religiosas, divisões sectárias, e profundas feridas sociais incicatrizáveis com a persuasão de morteiros? Jornalistas fanfarrões, intelectuais improfícuos sem o menor pendão sócio-político ou a mínima honestidade moral para tratar do caso falam asneiras porque é moda falar asneiras, modo ímpar de ser-se ouvido nestes dias tão estranhos e tão comuns.
Solução? Não há. As tropas terão de ser mantidas lá por muito tempo ainda. A custo de muitas vidas americanas e iraquianas. Retirar, como quer a neopopulista e sedenta senadora e candidata à Casa Branca Sra. Clinton seria um suicídio com conseqüências inimagináveis.
É um atoleiro a aventura americana nas terras de Ciro e Xerxes? Sem dúvida que é e a saída aponta para uma névoa espessa; mas há esperanças, até para mim que não sou muito de ter esperança e ela é esta estampada na foto acima, do sargento americano deformado por um carro-bomba que explodiu junto de seu pelotão de fuzileiros navais. Ty Ziegel, de 24 anos, casou com a bela Renee Kline, namoradinha de infância. O homem pode tudo, cometer as maiores atrocidades imagináveis, mas não pode jamais conter essa força avassaladora chamada amor.
Recebi um artigo escrito por Leonardo Boff em que diz que alguém disse isso sobre a guerra do Vietnã: "Perdemos a guerra porque não dá para vencer um povo que contra tanques recita poesias".
Talvez esteja aí a solução: em vez de rajadas de pólvoras, os soldados tentem ogivas de Castro Alves, torpedos de Quintana, um míssil fabricado na casa do Manoel de Barros, um foguete com a assinatura da Cora, outro da Cecília...outro daquele outro...
Escrito por Alex Menezes às 23h05
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