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A Fome e meu Bisavô

Sou um entusiasta da tecnologia. De todas as engenhosidades humanas (positivas) essa aí que faz um artefato transcorrer o éter espacial e viajar 680 milhões de quilômetros, alcançar um planeta, aterrisar (martenisar?) nele (no pólo desejado!), prospectá-lo, radiografá-lo, enviar dados e fotos à Terra operando como se fosse meu carrinho de controle remoto, enxergo nisso um assombro, algo próximo a crer no Divino, pois se o homem pôde produzir igual tecnologia que beira a fantasia, imagine o Gênio que o criou.



O jornalista André Petry fez elucidativa e didática matéria sobre a fome que assombra os terráqueos e usou o milagre da nave Phoenix para ilustrar as incongruências do homem que projeta uma coisa ultra-extraordinária como mandar um objeto a quase 1 bilhão de Km daqui para futucar as entranhas dum planeta amigo, e ser incapaz de saciar a fome de pessoas que estão tão próximas em distância, mas tão longe em possibilidades.



A cada 5 segundos morre uma pessoa no mundo por não ter o que comer. Fala-se em “neomalthusianos”, aqueles que adaptaram as idéias do economista inglês Thomas Malthus, que previa uma hecatombe porque segundo sua crença, crescia gente demais e comida de menos. Fala-se de tudo. Ouvi meu bisavô dizer que a terra tinha capacidade para alimentar 34 bilhões de pessoas. Fiquei com esse numeral homérico memoriado para sempre. Meu bisavô não era economista, quiçá humanista.



Não fosse a ganância pelo maior lucro possível talvez coubessem 34 bi-bocas nas mesas do mundo. Só os americanos do norte desperdiçam 27% da comida disponível; segundo um estudo, uma família de 4 pessoas joga fora 4,7 kgs de carne e peixe por mês: 80 milhões de pessoas seriam alimentas por dia caso não houvesse tal desperdício.



Mas é tão aborrecível falar de mortos futuros e passados!; melhor embicar a discorrer sobre essa magia quase feiticeira da nave da Nasa. Imagine comigo, senhora leitora. Imagine a nave transpassando os cinturões galácticos, perpassando estrelas tão distantes quanto nossa atrofia em amar o inimigo, compreenda-a superando os primeiros raios solares, largando atrás de si os gemidos terrenos, que são muitos.



Quanto mais se distancia mais se humaniza a máquina. Quanto mais longe mais perto da “verdade”; acho que estou viajando no texto, junto com a imaginação; receio que é hora de parar.



Refugiado à sombra do mistério


Pude cantar meu hino doloroso:


E o mundo ouviu o som doce ou funéreo


Sem conhecer o coração ansioso


Refugiado à sombra do mistério.





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