“Romanos! Neste dia, com favor o divino, venci Aníbal e Cartago na África; subamos ao Capitólio para dar graças aos deuses e para lhes pedir que vos dêem sempre chefes que se pareçam comigo!”.
O artífice que pespegou e entoou essa frase foi o cônsul romano Públio Cornélio Cipião, ou simplesmente “Cipião Africano”, o homem que enfim conseguiu livrar Roma do temível Aníbal que para equivaler em arte retórica ao seu verdugo, exclamou: “Libertemos os romanos dos terrores que lhes causa um velho”, e se matou.
O professor da faculdade de medicina da Bahia (UFBA), Antonio Dantas, é o nosso Cipião Africano. Como quase todos viram, ele disse que baiano tem o QI baixo, de ostra, como se diz nas rodas. Segundo Cipião Baiano, o baiano só sabe tocar berimbau porque é um instrumento de uma corda só; meta-lhe mais uma corda e nenhum conterrâneo de Rui Barbosa o irá reconhecer como violino, que dirá administrá-lo com a perícia de um Stradivarius.
Sinceramente, não consigo distinguir um piano de uma gaita. Na forma eufônica, quero dizer; a visão ainda está em ordem.
O grande equívoco do nosso Cipião não foi dizer que os baianos são mulas. Foi o modo de dizê-lo, sem quantificá-lo. A Bahia é um dos estados mais atrasados do país. A política ali é medieval. Feudos dominam cidades, como na Idade Média clãs concentram o poder monetário e político. Seus índices de educação são pífios. Tudo é o modo de dizê-lo. Seus 417 municípios figuram entre os mais miseráveis do Brasil. 21% da população é analfabeta. São mulas os 15 milhões de baianos que habitam a Bahia? Por óbvio que não.
Outro erro do professor foi ter se retratado. É um sinal da fraqueza do nosso tempo. Para ficar no ambiente romano, não vejo Pompeu Magno se retratando após desancar a ralé da Alsácia. Teve de pedir demissão. Tivesse mais alma e espírito, poderia usar a exposição e alavancar uma candidatura para um cargo eletivo. Tal tese só corrobora a minha suspeita de que ele se incluiu a si no rol de baixa inteligência.
Fosse eu o professor, e se Deus quiser um dia não serei, escreveria um artigo ratificando todas as minhas asserções sobre o péssimo rendimento de alguns baianos em determinadas tarefas do conhecimento humano. Nele, eu não os chamaria de mulas, animal subalterno, mas de camelos que se também tem o vício de ser um bicho servil ao menos é importado, fato que lhe confere status e alguma aceitação. Noutra ponta do artigo pediria que fossem instalados em praça pública pianos, violões, violoncelos, trompetes, saxofone; ia ser vocabulário corrente entre os baianos as palavras alaúdes, harpas, saltério, rabeca, espineta, arcos, trastes, plectros, baquetas, martelos, bocais, foles, teclados, válvulas, chaves e pedais; o agojô seria o principal instrumento de importação da Bahia. Passava a fazer da organologia (ciência que estuda instrumentos) matéria presente desde o primário, para enfim livrar os bons baianos do primarismo que os aflige sem eles saberem. Obrigado por nos avisar, senhor professor.
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