Noite dessas, no parque ao léu
Impaciente, cogito mirar o céu
No tumulto das tristezas
Um mar sereno de estrelas
Navegam o infinito plano
Simulando celestial oceano
Uma das invade a pupila
E nela brilha e burila
Penso em lhe interrogar
E ela já a me espreitar;
Invade, penetra minha alma
Estupefato, invoco à calma:
Que vês daí Estrela do dia?
Muita dor, aflição que te entedia?
Tantos séculos e gerações vistas
Algumas tristes, feito más visitas
O que viste que te mais impressionou?
Uma guerra ou nascimento duma flor?
Qual menina, rapaz ou petiz
Que vagamente infeliz
Pra ti olhou com ar de inocência
E dela afastasse a humana demência
E então te acariciou com o olhar
E tu prestes a chorar:
– Criatura tão meiga e tão boa
Não merecias ser uma pessoa!
A Estrela vibrou, parecia um rumor
(Eu era só destemor)
Rugiu com um brilho
(Solitário estribilho)
Que me ensurdeceu a visão
Parecia até ilusão
Quando era um atalho
Para eu ver o bugalho
Em que me transformei
Não podia compreender
Que uma estrela nos dê
Uma chance qualquer
De senti-la sequer
As estrelas só falam
O que as mentes cá calam.
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