Diante do papel em branco
Eu me sinto fraco, molenga.
Revejo o papel untado
Caio de olhos no branco, aprumado
Leio as letras ágeis, límpidas
Não rimo amor com pavor, sô
E tudo é uma folha em branco.
A vida é uma folha branca, uma alvura que dá gosto
A preenche com música, para abafar o látego
Família, amigo e moqueca, trem bom
Brancos também são os domingos
Quando caem de terça, dia de feira e roça
Semanas acabam em branco, translúcido
Se tudo não fosse branco, oxente
O bem tudo venceria, suprimiria
O tédio ia entronchar nós todos
E eu mesmo não versaria
Tentava era enforcar o tinhoso
Aquele que perfez a monotonia
Dilareça a gente, com malvadeza
Se houvesse um amor lapidado
Na esquina, no pé de jerimum
Não careceria de tanto branco
Tudo ia tá mais embelezado
Eu ficaria suscetível a ser feliz
Melhoraria a carestia
Mas a vida é feita em branco.
É um branco feito de fogo
Branco de feitiço, num sabe?
Esse branco que a nós ensoberbece
Marca com pincel de cerda branca
Branqueando tudo perto de nós.
Tudo um dia há de ser alvíssimo.
– Meu sinhô, só com a graça do Altíssimo.
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