Eu implico com certas palavras. Não gosto de gramáticos. Por que raios se escreve “arborizado” em vez de “arvorizado”?; não gosto. Tenho alergia a certos métodos lingüísticos. Não corrijo meu sobrinho de 2 meses e ½ quando ele diz “menas água, tio”, é um sinal claro de que ele está raciocinando. Vá eu me meter na cabecinha dele que “água” não combina com “menas”. Periga de travar o cerebrinho do coitado.
Outro dia encrenquei com minha sogra. Sogra imaginária. Dessas que não brigam com genros nem trocam o sofá alheio do lugar. Mas só conto o motivo no fim da crônica. Crônica é outra palavra encardida.
- Como está a crônica de hoje?
- Crônica.
Mas o tempo, que como o vento faz arredondar as formas brutas, ele cuida desses sortilégios da palavra. Pense num diálogo assim:
- Vossa Mercê ainda me deve aquela nota.
- Em boa hora eu pagarei.
Claro está que não foi nenhum intelectual carismático saído dos gabinetes palaciais que aboliu o voluptuoso “Vossa Mercê” dos nossos dias. Isso deve ter sido arte dalgum escravo fugido, e em hora de fuga:
- Corre!, corre!, corre Juvêncio! se não vão te pegar você! - quem é que pensa em gramática com um chicote roçando-lhe as costas? Devemos a simplificação dos nossos dias a um escravo em apuros. Fico na dúvida se dou o crédito para o chicote ou para o escravo. Ó dúvida cruel, dúvida de Arquimedes, quem foi mais útil para o progresso e a ciência deste mundo, o escravo ou chicote...?
Cadarço ou cardaço? Tem coisa mais inútil? Cordão não resolvia o problema? Sessão ou seção? – Vou ver uma sessão de cinema – Vou numa seção daquela autarquia. Sessão com ss é mais saborosa. E a palavra conta? Tudo bem que dá para fazer poesia. “Não, acho que estás só fazendo de conta/ te dei meus olhos pra tomares conta/agora conta como hei de partir”. E o poeta podia esnobar, se ele fosse eu e ainda bem que não é: “e esta conta/feita sem muita conta/ e a sua conta*/ sua moral...”
E a palavra sexo? está errada. Deveria ter a palavra sexa. Como não existe o feminino da palavra sexo? Ela só não existe por motivo de machismo e discriminação. Onde andaram as feministas ou, ao menos, as mulheres versadas na gramática? Quero demais, estou abusando? Se existe sexo feminino e sexo masculino...o sexo da mulher não pode ser masculino!
- O sexo masculino é melhor que o feminino. Sem dúvida.
– Prefiro a sexa feminina, é mais delicada e não joga aos sábados.
Falo e falo. Por que, deuses dos gramáticos, porque senhores imortais das Letras, por que o nome do órgão genital masculino é igual ao verbo falar? Ora essas! Se o órgão nasceu antes da linguagem (não haveria fala sem o falo) que se inventasse outro nome para a fala!
- O meu falo é maior que o seu.
- Mas meu falo fala mais alto que o seu.
Quero habilitar a palavra menas. A partir de hoje (sairá no Diário Oficial) faço saber, sanciono e decreto seu uso regular, até em documentos formais. Só não quero que meus seguidores se empolguem e saiam por aí a dizer: “Agora eu vou poder estar dizendo menas.” Aí já é demais, eu não assino.
*a terceira conta significa, “reputação”.
Comments