Uma moça, dona de 19 anos, abdicou do bem supremo da vida ao saltar num brinquedo de “Queda Livre”, e se foi para sempre. Bela, jovem, estudante, cheia de saúde: não verto uma gota de lágrima para semelhante desastre. Nenhuma. Ainda que ela fosse a minha estimada irmã, continuariam secos os olhos, como também ficaria seco o coração, que é o olho interno do corpo.
É um gênero de morte desnecessária. Inútil. Não precisa. Para quê? Já temos no cardápio da extinção bala perdida, achada, trânsito selvagem, vírus letais, bactérias idem, tumores do mal, e todas as demais modalidades de abreviação da vida; por que acrescer outras formas mais estúpidas que as que já há? É tipicamente humana essa propensão ao exagero para atrair a morte. Juntos, EUA e Rússia estocam 300 kg de urânio enriquecido. Bobagem: 70 kg é o suficiente para destruir a terra dezenas de vezes.
Há pessoas que travam uma diária batalha pela sobrevivência, passando por toda sorte de doloridas sessões de invasão médico-hospitalar: são entubadas, agulhadas, cânulas penetram-lhe a pele em busca de material para biopsia, drogas maltratam as vísceras, privações várias, fisioterapia excruciante, rotina militar de disciplina alimentar que faz até uma simples maionese se transformar num tormento pontuado por eritemas, sem contar as dores agudas que não tocam a pele: tocam o sentimento, esse sensível órgão espiritual. Apesar de toda a via crucis, essas pessoas permanecem firmes, na árdua lida pela vida.
Nosso mundo, não canso de dizer, é um lugar estranho, confuso. Enquanto pessoas travam guerras e se sacrificam para viver, outras simplesmente colocam em risco o que a maioria zela com carinho. Essa triste moça, que foi veloz ao encontro da morte, não a desejava decerto; apenas quis flertar com ela, raspar a mão na careca (de tão velha, deve ser careca a morte), zombar mesmo dessa velhota, e tal sensação de proximidade a ela desafia o senso de monotonia que todos execram, mas que é o que nos mantêm vivos.
Há modos e modos de morrer. Uma coisa é morrer por fadiga, exaustão; compreensível, porque viver, para alguns, é labuta e servidão, e viver entremeado por sofrimentos demais é um modo de morrer em vida, a cada dia, o que macula e fere. Mas quê? Entregar a vida assim, de moto-próprio, sem drama e sem batalha? Isso eu não tolero. Para furtar (já que ninguém está vendo), uso uma fala dum amigo já morto, mas vivo, encerro:
“Por mais aborrecível que pareça a ideia da morte, pior, muito pior do que ela, é a de viver”. Óbvio, você não gostou, acertei? Vou contrabalancear, então:
“A vida é uma ponte lançada entre duas margens de um rio; de um lado e de outro, a eternidade”.
Escrito por Alex Menezes, às 23h40.
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