O que são as coincidências. Dia desses, horário de pico, plena Av. Ipiranga, o imponderável se afigurou diante de mim: achei uma nota de 10 reais, novinha. Achar não é o termo adequado; na verdade, aquilo foi um saque que fiz do Banco Central do Acaso, que ainda me deve outros 10 reais, pois, há uns três meses, fiz um depósito compulsório numa das agências deles que estão espalhadas por todo canto, ao perder 20 reais numa nota só. Bancos, ainda imaginários, nunca perdem.
Pouco, muito pouco obstante, se você acha que isso foi o “imponderável” a que me referi, engana-se. Tão raro quanto achar uma nota de qualquer valor que seja nos dias atuais é encontrar no transeunte que testemunhou o fato raro um sujeito de outro país:
- Caramba, que sorte! Achar 10 reais assim!...
- Hi..do you know where the street named Viéirá dé Carvalióu... ?
- Como?
O sujeito era inglês. Estava em São Paulo para recuperar as malas extraviadas no avião.
- What your name? – perguntei eu antes de dar-lhe a informação.
- Robert. Richard Robert.
Olhei a sua cara branca e normanda para ver se não era o Bond. James Bond. Com o meu inglês mais fraco do que caldo de batata, fui tentando a comunicação com ele, meio assim, “mim brasileiro”, etc.
Sorte é que os meus amigos de Liverpool me ajudaram. Falei para ele que seu nome me lembrava uma música dos Beatles, ou “os The Beatles”, como diziam os radialistas de Botucatu. A música é Doctor Robert.
- Mios amégos mé chamám acém ene Englatéra. Doctor Robert.
Sorri apenas; o levava até a rua que ele precisava ir. O sujeito, cara de boa gente, o lábio algo indígena porque espesso, tinha uma fisionomia que evito descrever, porque esse treco que escrevo não é um romance. Veio para o Brasil para ficar em Florianópolis. Quer aprender literatura e língua brasileira para dar aula na Inglaterra. Exótico, não?
Deixei-o à porta do escritório da Cia Aérea, que ele precisava resolver suas pendências, não sem antes pedir seu e-mail. E-mail? Ele fez uma cara como quem diz na linguagem universal das expressões faciais: “Ele tem e-mail!”, e o anotou na agenda que eu carregava. E caso tenha dúvida do meu insólito encontro, tá aqui o e-mail do meu amigo inglês: r.doctor@yahoo.com.uk.
- Óbregado.
- Ring my friend I said you’d call Doctor Robert. – cantarolei eu.
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