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Toda Nudez Será Perdoada



Eu mesmo não me incomodo com a nudez: algumas das melhores coisas da vida são feitas com traje nu; pense num banho macio após um extenuante dia de trabalho?: vá lá, há outras coisas também. A nudez talvez tenha sido a primeira percepção do homem enquanto criatura e enquanto evoluciatura (tão na moda está a teoria da evolução que pede a evolução de um neologismo) pois ambos seres por razão climática ou pecaminosa tiveram de recorrer à vestimenta; primeiro com folhas de figueira, depois com peles de animais e, como tudo evolui, com Giorgio Armani para os muito evoluídos. As lojas do Brás também contribuem na cadeia evolutiva-vestuária, porque o fenômeno da evolução, por mais fenomenal que seja, não alcança a todos.


A jornalista que foi pivô dum micro escândalo no macro escândalo que é o cenário político nacional resolveu tirar a roupa para uma revista masculina feita de gente feminina. Não me causa inveja ou outros sentimentos menos republicanos que a moça saia sem saia na capa e no recheio da revista e de lá pule para o imaginário da nação. Pode-se pensar num conchavo político; eu penso na pujança. A moça com suas intimidades às escâncaras escancara o que apenas o senador-boi na segurança da alcova pôde não apenas ver, mas também desfrutar e já peço perdão pelo trocadilho odioso mas dessa sucessão de luxúrias vadias nasceu sim um fruto, providencial e tecnicamente chamado pelo dileto senador de “a criança”.


A nudez da jornalista não pode ser criticada. Povos antigos, à exceção dos esquimós, viviam nus e nem precisavam de grana ou de escândalo; apenas andavam, viviam, comiam. Pero Vaz de Caminha, o primeiro e mau cronista desta terra de flagelos, escreveu ao rei de Portugal sobre os nativos que aqui encontrou: “Andam nus, sem cobertura alguma”; ora essa, o que ele esperava? Uma Fashion Week?, continua: “Nem fazem mais caso de encobrir ou deixar de encobrir suas vergonhas do que mostrar a cara”. Com tanta gente boa em Portugal (Gil Vicente morreu em 1536) viva àquela época nos mandam um sujeito que por ter pedigree (era cavaleiro do Duque de Brangança) documentar as estranhezas da terra brasilis mal e porcamente, cheio de lugares-comuns, um Paulo Coelho da Idade Média.


Mas o que nos importa agora é a ruindade dos protagonistas do presente; os do passado já fez o estrago devido, legando para nós este cenário melancólico. O fato de a jornalista mostrar os atributos físicos na revista garante a ela e ao episódio um lugar no futuro, quando todos esquecerem, daqui três semanas (contanto que nenhum avião despenque dos ares antes) que Renan Calheiros fez de idiota eleitores, imprensa, nação e instituições, todos hão de lembrar das sinuosas curvas da sirigaita (como deve estar sendo chamada pela consorte de Renan) devidamente acentuadas por algum programa de computador milagroso que tudo faz: empina, retoca, estica, aumenta onde falta, diminui onde sobra, cancela varizes, faz de um simples mamilo um autêntico aríete arrombador de muralhas, tal a agudeza desses bichos antes mamários, enfim opera sem sangue. Mas parece que a moça não vive apenas nas páginas de revista, mas também no mundo real, lugar assaz perigoso em que o computador ainda não atua por medo ou sabedoria.


Pose mesmo, Sra. Mônica, nos delicie e nos aproxime do poder federal; até onde consigo chegar com meu faro de vira-lata, não há outro modo de roçar as ventas nas entranhas do poder.




Escrito por Alex Menezes às 17h23


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