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Timão: Lágrima Sem Sal





Faz um tempinho que não presencio uma catarse tão grandiloquënte quanto a vista com o descenso do Sport Clube Corinthians Paulista para a série B. Até mesmo os anti-corinthianos, pessoas tão volumosas e gerais no mundo quanto as pró-corinthianas, maneiraram na tiração de sarro porque se viu que o golpe desferido contra a torcida mais popular da maior cidade do país foi poderoso: doeu tanto que os reflexos foram sentidos no outro lado da dor. Que o bandeirinha que mandou repetir os dois (2!!) pênaltis do Goiás, que ajudou na desgraça corinthiana, é palmeirense ou portador de três pares de colhões é fora de dúvida; não sendo correta nenhuma dessas hipóteses, elevemos o homem à condição máxima de probidade, indicando-o para um cargo no governo petista.



O engraçado, já que tudo é “engraçado” atualmente, o engraçado é que quem sofre, chora, se martiriza, se deprime, se mata, mata alguém, briga na rua e em casa é o pobre do torcedor e, mais danoso ainda, a mulher do torcedor, pagadora oficial e silenciosa dos maus resultados do Corinthians. O dirigente, o jogador, o empresário do jogador, esses passarão o reveillon a bordo de belas mulheres (incrível como são belas e não apanham as mulheres de jogador...) e de champanhe, não permitindo deixar entrar na sua nave qualquer melancolia por tão pífio desempenho no certame nacional.



Paixão não se discute, se sente e fim. Mas chorar copiosamente por um time de futebol, na frente das câmeras e dos parentes, julgo ser um pouco demais. Na verdade é um muito demais. Não creio que um suíço (a Suíça está na moda nesta coluna) se desmanche por um time ou por um golpe esportivo. O subdesenvolvimento do Brasil não explica a paixão; ingleses, italianos, espanhóis também matam e se matam por seus clubes, o que ajuda a explicar que o futebol como manifestação cultural não se explica sócio-economicamente nem de modo nenhum.



A profusão de piadas que durará pelos próximos 365 dias será o ponto alto da estada do alvinegro na segunda divisão, se aceitas, será uma forma de exorcizar o demônio do vexame que lamentavelmente não atinge os políticos nacionais quando flagrados nas suas principais atribuições, as tradicionais ladroagens.



A torcida não merecia o ocaso do rebaixamento, o time e a administração pela ruindade esportiva e burocrática mereciam a punição que se dá a filhos pródigos e desnaturados: o esquecimento. A irracionalidade dos torcedores dos demais times anseia pela estadia eterna ou, para os moderados, permanente do “Timão” na dureza da segunda divisão, esquecendo que a derrocada de um grande clube é na verdade a derrocada ou ao menos a penumbra do próprio futebol, que ficará privado de grandes embates; será que os palmeirenses se contentarão felizes com clássicos entre Palmeiras e Democrata de Sete Lagoas?




Escrito por Alex Menezes às 23h44


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