Na madrugada de sexta para sábado, ou seja, mais ou menos no dia 22,8 de setembro à 01h03 entrou no ar mais uma Primavera. Se eu tivesse a autoridade e o poder do papa ou o de um terrorista mudava-lhe o nome para Irmãvera.
Creio, todavia, que papas, terroristas, petistas, tucanos e todos os demais nobres senhores que ajudam a tornar nosso mundo mais florido tenham ocupações igualmente nobres.
Não por acaso o mês de abril tem esse nome em homenagem a mais luminosa das estações; num lapso de imaginação e inspiração os teóricos que andaram a batizar os meses deram folga aos Júlios, Augustos e Janos; a história de Jano é até curiosa, ele é, segundo a mitologia romana o deus tutelar de todos os começos. Daí Janeiro. Foi acrescentado ao calendário gregoriano por Numa Pompílio (715-672 a.C) o sucessor de Rômulo, fundador de Roma, e que também deveria ser um tirano como todos os sucessores de tiranos.
Mas prefiro o Abril. Vem do latim aprille literalmente “abrir” época em que, no hemisfério norte, as flores se abrem, desabrocham. Mas fico encafifado: porque dizem que a flor é ferida aberta? Há algum botânico entre os leitores?
Naturalmente há lugares onde a primavera jamais floriu porque não se planta nada além de vazio e quando muito, solidão; a solidão das flores e das árvores faz a natureza órfã, manca mesmo de uma estação.
Desse modo ela, a Primissíma Vera, apenas se manifesta nos noticiários ou no calendário pendente à parede, não raro amarelado com um ou outro ponto em vermelho, anunciando feriado para uns, precaução para outros; esse mecanismo estranho que o homem criou para fatiar o tempo. Tal qual os gramáticos fazem com o idioma, fatiando-o em mesóclises: florear-se-ia.
Mas o que importa é que ela chegou, derramando seus perfumes, revestindo os galhos nus, colorindo os jardins suspensos de todas as babilônias daqui e alhures.
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