Paulo Coelho acaba de lançar mais um livro. Novidade alguma, o ofício dele é escrever; seria como se dissesse que um pedreiro construiu uma casa. Querem derrubar a casa literária do Paulo Coelho, ou Paulo Rabitt, tão internacional ficou o homem.
Não é novidade que a crítica no Brasil está abaixo da crítica. A revista Veja por meio de seu crítico literário Jerônimo Teixeira sentou a bota no Sr. Paulo. Sentou a bota é modo carinhoso de dizer; ele bateu abaixo da linha de cintura. Veja:
A "mensagem" do autor estaria em algum lugar do além, preservada na oligofrenia de sua prosa. Mas é na tal mensagem que reside o pior de Paulo Coelho.
Oligofrênico. Eis o belo adjetivo usado pelo colunista para elogiar o trabalho do escritor – ou pseudo-escritor, como alguns querem. Como uma palavra dessa, feia como o cão, não entra na boca nem no cotidiano da gente fui sacar seu mistério no bom amigo dicionário: “deficiência do desenvolvimento mental congênita; forma atenuada de idiotia”. Idiotia.
O crítico tem de ter sensibilidade para criticar. Uma coisa é criticar, outra é ofender. Isso de “idiotia” equivale a uma imensa ofensa não ao trabalho em si, mas à pessoa.
É natural que Coelho seja duramente criticado – o sucesso alheio machuca mesmo. Todavia, em matéria recente da mesma revista, ele era louv ado por ter vendido 65 milhões de livros e, principalmente, ser lido por gente “célebre” e “influente” do jet set internacional como atores do cinema americano, políticos decadentes, facínoras notórios e toda casta de mão-de-obra que ajuda a tornar nosso planeta mais miserável.
Paulo Coelho diz que escreve fácil. Não tem pretensão de escrever um Finnegans Wake o “intraduzível”, “ilegível”, o impossível livro do irlandês James Joyce que usa termos de mais de 65 idiomas, cita o nome de 700 rios do mundo e criou uma palavra com 103 (103!!!) letras, duvida? Espere que vou até a estante e copiar o calhamaço, um minuto.
“Bababadalgharaghtakammimnarronnk- onnbronntonnerronntuonnthunntrovvarhou-
nawnskawntoohoohoordenenthurnuk!”.
O tradutor brasileiro Donald Schüler traduziu assim o delírio joyceano:
“Bababadalgharaghtakammimnarronnk- onnbronntonnerronntuonnthunntrovvarhou-
nawnskawntoohoohoordenenthurnuk!”.
Pode-se desdenhar e pôr em xeque a idéia do autor, mas aí seria outro Ovo de Colombo: coisa fácil de fazer, mas só depois de feita.
Outro exemplo clássico é este do pintor suprematista russo Kasimir Malevich:
Um simples quadro negro. A negrura da tela junto com a ousada idéia de concebê-la vale alguns milhões de dólares. Olho a tela e não enxergo o negro; vejo o foco da inventividade.
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