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Os Diamantes da Nossa Consciência


Fui assistir ao filme Diamante de Sangue. Quais os requisitos necessários para que povos e nações prosperem? É delicado. Milenaridade? Alexandre fundou Alexandria-de-Aracósia, atual Kandahar, e ela já existia; a cidade deve ter uns três mil anos de existência e está na Idade do Bronze. Inteligência? Na Rússia pré-capitalista, o xadrez era esporte popular; boa parte da população rural bebia sopa de pedra. Riquezas naturais? A África é o maior produtor de diamantes e metais preciosos do mundo, e é a miséria que é. Por outro lado, diz-se que Beverly Hills é o lugar onde se concentra a maior população de babacas por m2 do mundo, e lá a prosperidade impera. Conta difícil de fechar.


“Que insigne alquimista é o tempo; dá-se-lhe um punhado de lodo, ele o restitui em diamantes, quando muito, em cascalho.” Disse M. de A. Geólogos calculam que o diamante leva 3,3 bilhões de anos para ser forjado nas entranhas da terra; é carbono em estado puro. O que não é puro são os dividendos causados pelo seu comércio, venda e extração. A crueldade que o brilho das pedras esconde não está no gibi, mas está no sangue derramado na sua extração e no financiamento das guerras sem fim na África setentrional. Os filmes nos aproximam de uma realidade artificiosa; a crua verdade deve ser mui mais dorida.


Dá um certo tom de cumplicidade inconsciente e impotência saber que atividades criminosas são, por osmose, financiadas por nós – sim, eu e você. Odiamos as guerras, mas quando abrimos uma latinha de Coca-Cola, mesmo aquele modelo light, estamos enviando subsídios nada ligth para que um míssil caia na cabeça de um afegão ou de um somali, como aconteceu antes de ontem (09/01/07), num bombardeio que os americanos fizeram na Somália, supostamente em busca de terroristas árabes.


É tudo muito difícil e desolador. Num mundo globalizado como este, uma ação em Zanzibar (Zanzibar existe!) pode gerar efeitos numa rua do Recife, ou ainda numa cabana dos Pirineus, o que me remete à teoria do caos, em que o bater de asas de uma borboleta no norte pode causar um tufão no sul, ou vice-versa, ou só a versa, não lembro a regra.


O filme se passa em Serra Leoa, segundo a ONU, o país mais tudo-de-ruim-do-mundo. A cena em que Leonardo Di Caprio, à beira da morte, fala ao telefone por satélite à jornalista (que está em Londres) que o ajudou a conseguir um diamante gigante é tocante: “A vista que tenho daqui é maravilhosa, queria que você estivesse aqui”. Ela também queria.


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