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Olha o Meu Guri/ Olha Aí/ É o Meu Guri


Barack Obama foi coroado, i.e., empossado no cargo de presidente do país cujo nome, candidamente, foi usurpado pelo o do continente. Apoteótico! Triunfante! Histórico! Memorável! – foram as manchetes mundo afora. Quando a rainha egípcia (que era grega!) Cleópatra VII, incrustada de ouro e glória, irrompeu os umbrais de Roma a caminho dos braços de Marco Antônio e da plebe romana, rodeada por milhares de escravos que puxavam um carro de grandiosidade estelar, em traje real, diadema de joias persas, deslumbrantemente travestida de imperatriz do mundo, parecia que aqueles viventes não iam invejar uma majestade de semelhante quilate no futuro.


Parecia. O coroamento-posse de Obama, se não teve a pompa cleopatriana que o tempo e os costumes naturalmente proíbem, teve toda aquela hipnose digna dos mais marcantes momentos da historiografia que perdoa tudo, menos a modéstia.


Imputar a um só homem a pesada carga de salvador de um mundo convulso é, além de arriscado, temerário. Obama, apesar do carisma digno dos mais célebres mitos, apesar do preparo acadêmico, apesar da oratória impecável, apesar do rosto eloquente e jovial que inspira confiança, hombridade, apesar de muitos outros atributos arraigados à sua aura já mimetizada pela ferocidade da imprensa, apesar de todos os insumos supradivinos inseridos à sua pessoa, apesar de tudo, é apenas um homem com braços e pernas.


Queria que ele fosse um Ulisses, mas já me contentaria com um Macunaíma, e se você julgar extravagante o anseio por um herói ficcional, tome lá um Chesley Sullenberger, o piloto do Air Bus que operou um milagre ao pousar seu avião nas águas geladas do Rio Hudson, em Nova Iorque, lugar destinado a acontecimentos espetaculares, e raro caso em que o cinema realmente não erra; e parece que lá tudo acontece mesmo, desde a chegada dos holandeses, que deviam ter ficado no Recife. Oxalá tivessem ficado.


Tenha Obama a perícia e o sangue-frio do piloto para decidir em momentos críticos o que fazer com o superjumbo que pilota, e eis solucionados não todos os problemas mundanos, mas ao menos teremos uma boa aspirina, que se não aniquila as cefaleias, dão um alivio bom para burro.


Pena saber que a caneta do presidente não é – analogicamente – tão poderosa quanto o manche dum piloto de avião de verdade; não é rara a vez que a caneta controlada pelos melhores impulsos vindos do cérebro de um homem de bem - como parece ser esse Obama – simplesmente pelo fato de que muitos interesses disputam os atos da caneta e a intenção do homem que tecnicamente a domina. Em suma, gostaria que Obama fosse herói mesmo, desses de capa e que voam, pregam-se em paredes, usam cintos de utilidades, têm forças sobre-humanas. Mas gostar não é igual a se ter, e assim o que temos é um mero homem, fadado a ter as mesmas fraquezas que eu e tu, com a vantagem de nem eu nem tu ter de decidir o futuro de mundo nenhum, apenas o nosso micromundo, que já dá um trabalho danado.




Escrito por Alex Bezerra de Menezes, às 22h27.


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