Conta-se que Teseu, iludido, enfrentou um leão decorativo sendo, portanto, sua coragem o que seduziu Hércules. Coisas das mais fáceis é ser corajoso, desde que se esteja no interior da pele de Hércules.
É muito possível que se precisasse de um Hércules para diluir não grandes problemas, mas os mínimos, aqueles aborrecíveis como moscas.
Dê-se a esse grande herói não um poderoso Touro de Creta para aniquilar, nem a tarefa de limpar um curral com 3 mil bois que há 30 anos nunca fora asseado, mas entregue a ele a missão de ignorar a necessidade de comprar aquilo que depois se vê inútil e enfiamos o filho de Zeus numa encruzilhada acerba, impondo ao semi-deus um castigo não imaginado por nenhum rei mau ou bom ou apenas rei.
O herói desse atual futuro que ora nos corrói carece de virtudes só encontradas nas plantas ou nas fogueiras quando crepitam faíscas na noite fria. A excepcionalidade deste novo herói ignora músculos e pede filosofia que deve ser o músculo etéreo do cérebro, não raro tão potente quanto os encontrados nos bíceps e nas academias.
Para se tornar ideal e eficiente e não descolado no tempo, o herói terá de abstrair e ignorar que é um herói, mecanismo indispensável para não ser tragado pela vaidade, câncer que ceifou a vida de muitos colegas ancestrais, como Aquiles que fez pouco caso da profecia de Janto, seu companheiro que cometeu o equívoco de ter nascido cavalo.
O próprio Hércules celebrado pela valentia que o postergou teria de passar por uma graduação nas novas leis que norteiam o sadismo nacional, como a audácia dos governantes e a inércia dos governados, posto entre esses ambos, ele tenderia a entediar-se e pode-se especular que não usaria nem a força física nem a intelectual e, sem querer tentar contra a memória do grande grego, fica a sugestão d´ele se aliar aos autores do colapso político com grave risco de sedimentar-se e reviver sua tragédia que em vez de uma camisola envenenada, será a apreciável ignorância alheia, tão necessária para a evolução das nações.
Comments