Não, meus amigos, nenhuma outra personalidade ou figura histórica exerce maior fascínio sobre mim do que Alexandre. Beira a obsessão. Segundo cálculos preliminares, devo ter lido mais de 12 mil páginas sobre ele nos últimos 3 anos (o que resultará numa biografia dele em 2009); 16 livros, artigos, críticas, ensaios, estudos filosóficos, legislativos, compêndios dos mais variados tons; dos que o odeiam e dos que o amam, referências de outros que sobre ele falaram como Napoleão, Francis Bacon, Hegel, Flávio Josefo, (o único historiador que cita Jesus fora da Bíblia); em suma, os mais diversos matizes do pensamento literário, político, filosófico, ético e religioso se dobraram sobre a vida e obra de, seguramente, um dos mais extraordinários homens que já existiu.
Dudot, chefe dos mecânicos da Mc Laren quando da morte de Senna, disse simplesmente sobre o campeão: “O homem era espetacular”. Alexandre está além deste patamar. Ele é mais que espetacular; ele é o imponderável, ele é nada menos que a violação do limite. Ele foi a primeira personagem histórica a ser cultuada em vida, como um deus de carne, que caminha por entre os seus. Quando se feriu gravemente numa campanha encarniçada contra tribos remotas da Sógdia, ficou paralisado e teve de ser carregado; ficando a incumbência de seu transporte, numa liteira, pela cavalaria real macedônia; logo a infantaria reclamou o “privilégio” de transportar seu rei, no que ele prontamente decidiu por um revezamento entre as duas unidades do seu poderosíssimo exército; quando entre os desfiladeiros nevados do Afeganistão seus homens cederam à fome e ao cansaço e ele foi pessoalmente encorajar seus soldados de forma tão contundente que era como se transferisse para eles sua própria força vital, pois muitos se reerguiam e seguiam em frente.
Não obstante tais gestos era capaz de ameaçar aniquilar um povoado inteiro caso não lhe devolvesse seu estimado cavalo Bucéfalo (Cabeça de Boi), seqüestrado pelos mardos, povos hostis do norte da Ásia. Impetuoso, o mega-ultra-herói (não são hipérboles!) da Antiguidade não encontrava céu que impedisse suas empresas; aos 25 anos de idade tudo o que existia abaixo do sol estava sob sua sujeição ou “supedâneo”, como gostam os persas.
Não há pré nem pós cedente na História humana de alguém tão jovem concentrar tanto poder; sua tentativa de unificar o mundo sob a égide de um único governo apenas se equipara, ainda que de longe, com o projeto da União Soviética 2.200 anos depois, que unificou povos dos mais variados matizes abaixo de uma única ideologia política.
Nenhum outro rei passou por tantas privações. Bebia água insalubre nas estepes e prados asiáticos o que lhe dava indisposições intestinais freqüentes; numa dessas, em batalha, foi gravemente ferido e seu sangue se misturou com as fezes e lascas de ossos da sua costela atingida por dardos; e tudo isso sendo tratado em meio à imundície de acampamentos improvisados no meio do deserto, entre serpentes, escorpiões e toda sorte de privação que não se pode imaginar, por mais que a imaginação alcance o vento.
Penso que Alexandre, que sonhava com a glória mítica de Aquiles, por não encontrar no covarde rei da Pérsia Dario um grande adversário (como Aquiles encontrou em Heitor o seu) se lançou a insânias como perseguir criminosos insignificantes ou submeter tribos de pouco valor político para o seu império; era a vingança pelo falta do que enfrentar. Como simples aprendiz de historiador, percebo que Alexandre confiava que alguma “Força Superior” o guiava rumo ao desconhecido e só isso pode explicar sua aventura; um ser humano dito “normal” não poderia reunir qualidades e inspiração para empreender o que ele fez em 10 anos de carreira militar; pessimamente comparando, é como se o exército da Venezuela vencesse o do EUA.
Seu fracasso se sobrepôs gigante sobre o sucesso não de outros homens, mas de civilizações inteiras; seu desejo de se elevar acima de todos os demais mortais o fez cometer vários desatinos, como o massacre à cidade Tebas e à fortaleza de Tiro, dizimando todos os habitantes destas cidades; mas eram necessárias estas ações; ele não ficou conhecido como Alexandre o Bonzinho, e sim Alexandre o Grande. Espero não estar incorrendo em uma grave heresia, mas Jeová, o Deus dos judeus e de todos os viventes também dizimou cidades, países e até gerações inteiras para conseguir Seus objetivos, porque não se pode governar sem ferir a quem se ama e até quem desama.
Ele sonhava com isso, com essa glória imorredoura, que já perdura por 23 séculos; tirano, sádico, beberrão, homossexual (como querem alguns pseudo-historiadores) tudo isso ele deve ter sido, mas o que importa se quando o sonho de um homem é pacificar todas as etnias, respeitar todos os credos, querer fazer da essência humana uma pureza que nela não há. Mégas Alexsandrós, ele foi maior do que seu próprio tempo, maior do que suas fraquezas; antes de o sol acender pela última vez, a chama do seu intento de organizar a humanidade ainda brilhará na escuridão.
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