Um camundongo olhou desdenhosamente para uma libélula, que se debatia no solo com uma asa a menos no corpo.
– Quero ver agora escarnecer da condição dos terrenos. Enquanto voavas, sorrias com celestial soberba; agora que estás no chão, te sacode como mísero inseto que és.
– Engana-se. Não me debato no chão, o que faço é tornar o solo um pedaço do céu azul, tateando-o…
– Besta. Se compreendesse que o sólido e duro chão nunca se transformará no sublime céu, ias te resignar à tua nova condição, e não ceder a delírios pueris.
– Hunf. Você é um pobre camundongo, que sobrevive das migalhas dos homens. Eu observo o mundo do alto; como meu alimento por escolha, não por necessidade.
– Tolo. Agora vais virar comida de camundongo.
– Não faço parte da sua dieta.
Veio um gato e abocanhou a libélula. Lambeu o camundongo e disse:
– O próximo bote vai ser num gavião.
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