Gostaria muito de poder reabilitar coisas que são, em sua essência, um mistério; sim, queria muito poder contribuir na continuação da criação divina, não soerguendo pontes ou crateras morais na face do globo, mas dar a cada pedaço de mistério o seu real valor ou, à guisa de Adão e Aristóteles, nomear as coisas que padecem da lacuna eterna de não sabermos o que é ao certo, exceto se formos consultar enciclopédias ou dicionários, coisas que apenas velhos e gestantes costumam fazer.
Se você me responder sem pestanejar o que é o pistache eu lhe envio a safra de 2006 inteira, direto da Síria. O que diabo é o pistache? Uma gramínea não é. Um legume? Não. Uma frutícola não, um cereal não, uma semente não; é um mistério, como o país da sua origem. Outro sujeito que faz bom par com ele é a Rússia. O que diabos é essa imensa extensão de terra? Um país? Um continente? É oriente ou ocidente? Está na Ásia ou na Europa? Winston Churchil a definiu sabiamente como um enigma dentro de um segredo cercada por um mistério.
Nadíssima obstante ao prestígio desses dois membros do clube do mistério, nenhum faz frente à mulher. Na célebre e belíssima “O Quereres”, Caetano Veloso evoca uma série infinda de antíteses, por exemplo:
“onde queres revólver sou coqueiro” (genial!)
“onde queres o nada, nada falta”
“onde queres descanso sou desejo”
“onde queres eunuco, garanhão” (!!)
“onde queres tortura, mansidão”
O pináculo se dá quando ele entoa: “onde queres o ANJO, sou MULHER”.
Veja que esse é um grande problema; um problema digno de Pitágoras, se você for cristão, ou de Euclides, caso seja ateu, peemedebista ou um simples tucano com tintas petistas: tudo são ocasiões. Caetano sugere uma cisão entre o símbolo máximo da bonomia espiritual, o anjo, essa espécie de humano com caráter alado, e a mulher, que em tese teria tudo para ser espécie humana, mas esbarra na questão ímpar de dar à luz, prerrogativa só atribuída aos deuses e à imaginação. Caso seja leitora, não se sinta já no Olimpo; aguarde a conclusão do meu raciocínio.
O anjo e a mulher não são tão antagônicos como sugere o letrista; numa breve genealogia dos anjos, posso dizer que: havia os ferrenhos que, “com uma espada flamejante” (Gênesis 3, alguma coisa mais) guardavam o Éden, para proibir o retorno dos ex-hóspedes; depois os do dilúvio, “que tomaram a forma de homens para seduzir as mulheres carnais” (que deviam ser lindas!) (Gênesis 6:4, acho) e, como resultado nasceram os “Nefelins”, homens gigantes, muito maus, que arrasaram a terra e Deus, arrependido (!!!) de ter criado o homem (Gênesis 6:6) inundou o planeta com um dilúvio; prova fundamental de que o Criador varia seus conceitos de maldade: cadê o nosso dilúvio? Por fim, tem o anjo salvador não de vidas, mas de reputação, como aquele que apareceu para convencer José de que o filho que Maria esperava não era fruto de adultério, mas do Espírito Santo, a força ativa do Criador.(Atos 2:20, João 14:17). O que era para ser um texto sobre mistérios acaba por se transformar numa peça de proselitismo. Enfim, perceberam nessa breve biografia que os anjos têm um pouco de mulher na sua composição química? Salvam, atemorizam, protegem...
Perdi o fio da meada. Isso está parecendo aquelas conversas de gente maluca em que se começa falando de extrato de tomate e quando se vê já está se falando sobre o assalto ao trem pagador; vou retomar. Não vou retomar. O que ficou escrito aí em cima vai ficar assim mesmo; chegou a hora de eu dar trabalho para vocês, se quiserem decifrar o resto do meu pensamento, (que nem é essas coisas todas) dêem um jeito aí. É claro que fico meio assim, enrubescido, por deixar a coisa assim, meio inconclusa, flutuando na sua cabeça; como solução, sugiro colocar mais esse mistério nos tantos que já existem por aí, o que garanto é que esse é menos misterioso do que, por exemplo, a origem do Nilo.
Escrito por Alex Menezes às 16h58
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