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Foto do escritorABM

iPhone e Fé


Os próceres da Revolução Francesa não podiam crer que seus próprios sangues seriam derramados para expurgar e fazer o gran finale da insurreição. Alguma coisa disto tem a ver com o que hoje prometi: escrever sobre Fé e Tecnologia. O início do texto não me permite vislumbrar o elo entre uma coisa e outra, mas confiem em mim e em minha intuição.


Gadget. Esta novíssima palavra é o terror dos puritanos, religiosos e que tais. Gadget é a tecnologia mutante, desesperadamente ávida de nascer e morrer num vórtice alucinante. Gadgets são: celulares, smartphones, PDAs, tocador de MP3, lap tops e por aí a fora. Errado: por aí a dentro. Pois é dentro de nossas cabeças e bolsos que essas traquitanas tecnológicas convulsionam nossas vidas. Viram o que aconteceu com a “Ferrari” dos celulares, o supra-adorado e esperado iPhone da Apple? A ansiedade causada pelo anúncio de suas vendas causou frisson e armação de barracas em Nova Iorque, para ser-se o primeiro a comprar, a possuir esse mimo que é quase um milagre (milagre?!) da tecnologia; o brinquedo tem até um sensor de gravidade que faz as fotos digitais mudarem de ângulo se a tela estiver na vertical ou horizontal. O que diria sobre isso (santo) Tomás de Aquino, o mais genial dos doutores da Igreja? Ele era “o mais sábio dos santos e o mais santo dos sábios”; devia ser bom mesmo o Tomás.


Aquino não gostava muito de falar, e por isso foi apelidado de “Boi Mudo” pelo seu preceptor, (santo) Alberto Magno. “Quando esse boi mugir, o mundo inteiro vai ouvir o seu mugido”. O boi tecnológico já mugiu, muge e continuará a mugir. Perdi a linha do raciocínio, droga. Vou tentar reatar os fios.


Aquino propôs as famosas “5 Vias de Demonstrações” da existência do Criador. A Primeira Via é a que nos interessa:


1a. via – Primeiro Motor Imóvel


Tudo o que se move é movido por alguém. É impossível uma cadeia infinita de motores provocando o movimento dos movidos, pois do contrário nunca se chegaria ao movimento presente, logo há que ter um primeiro motor que deu início ao movimento existente e que por ninguém foi movido.


Percebam que o pensamento racional do religioso (“Não pode haver contradição entre fé e razão”, disse ele num arroubo de sapiência e lucidez) é um modo avançado de pensamento não obstante a palavra e o dono dela viver na obscuridade do século 13 (1225-1274), época em que vigorava o teocentrismo, Deus como centro do mundo. Igual pensamento é tecnologia de ponta, como a do iPhone. Esse conhecimento hiper avançado não solapou a fé; antes, serviu de alicerce para gente como Leibniz (1646-1716), inventor dos números binários (0+1), a linguagem informática; depois para Newton (1643-1727), símbolo máximo da moderna ciência; e Einstein (1897-1955), produto final desse acúmulo de sagacidade que começou com Aristóteles (384-322 a.C), a quem Aquino reabilitou depois de passar 1500 esquecido.


O dilema agora é que a tecnologia não é abstrata, como as fórmulas matemáticas ou um pensamento filosófico; não, a tecnologia agora fala, se mexe, tem imagem, som, cores, virtualidade, é táctil e mais: está plenamente incorporada ao cotidiano. Antes podia-se viver sem o pensamento cristalino de Aquino; hoje já não se pode viver sem celular, ou Internet. Essa tecnologia “facilitadora” da vida cria um abismo social (países pobres não acompanham o volume) e uma intensa ansiedade, que só a historiografia futura dirá que efeitos causaram nos homens.


A tecnologia então ceifará a fé? A resposta é advinhatória: ceifará. As previsões para até 2017, em termos tecnológicos, são fantásticas. A WiMAX será a Internet em qualquer lugar, sem fio, e de forma ilimitada; os PCs vão desaparecer; o Windows 2017 terá elementos de inteligência artificial: ele saberá o que estamos querendo e se adaptará a isso. A fé, que já parece arcaica para muitas pessoas, cairá no abismo da indiferença quando formos bombardeados por soluções que causarão alumbramento e inquietude nas pessoas. A informática é de longe a maior inimiga da fé, o anticristo perfeito.


Quando a nanotecnologia descobrir a cura do câncer e do HTLV3 (saudoso…), será jogada a última pá de cal nos que acreditam na fé e, a partir daí, um admirável mundo novo se abrirá diante dos que estiverem vivos para presenciar essa revolução que derramará menos sangue do que aquela Francesa --- eis aí o elo, ex-perdido.


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