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Invasão à Mente do Leitor




Hoje o cronista está sem assunto. Ele poderia falar sobre o Apanhador no Campo de Centeio. Das agonizantes gravuras de Francisco de Goya expostas no Museu de Arte de São Paulo. Poderia falar da moça belíssima que apresenta o jornal enquanto ele escreve. Poderia falar de um conto do Borges; daquela quase-talvez-namorada que numa viagem implicou com ele por conta da água de coco, que sempre estava aguada para ele. Sobre o quê o cronista poderia mais falar? Da inépcia do governo? Isso se encontra, abundante, nos jornais, que ninguém lê.



O cronista poderia escrever sobre a infalibilidade dos corações renitentes; ou da utopia de crer que durante toda vida, só há um amor. (A Utopia do Equilíbrio?) Mas o cronista é obtuso; alheio a si não esquecendo episódios complexos e distantes, como o duma água de coco insossa, a companhia dulcíssima.



Um bom exercício de viagem ao “fluxo de consciência” (julgo haver alguma fã da Virginia Woolf entre as leitoras) do leitor seria descobrir o que ele gostaria de escrever, sobre o quê. Talvez se o leitor estivesse no meu lugar, (escrevo com a TV acesa) e ouvisse um comercial em que uma mulher diz que sua cadela de nome “Melissa” perdeu o pet shop por causa do trânsito passaria a discorrer sobre a frivolidade e lançaria diatribes sobre sua própria frivolidade, condenando-se.



Como os assuntos escapam à possibilidade discursiva do cronista, ele se apodera da sua consciência, e a lê, entroncado nos labirintos, feito um Dédalo neural, confuso entre as sinapses, os axônios estéreis, dendritos perdidos, a bainha de mielina solta, e isso que parecem nomes difíceis são apenas peças íntimas do seu cérebro; daí, qual invasor que inocula um vírus não-letal na sua mente, ele imagina o que você acha da invasão norte-americana ao Iraque, que completou 4 anos e deverá completar 40 nos próximos 36 anos. É uma experiência marcante.



O cansaço chega, ele mtsirouo as paalvrsa (que são letras apenas) e é porque há conflito entre o seu e o pensamento dele. Ele chega a pensar que a mente invadida dispõe de bolachas cream crackers moldadas com teclas de isopor derramadas em gotas de papel celofane e o que o cronista vê na sua mente é uma tela de Salvador Dali; imediatamente foge dela e se instala novamente na sua mente, desperturbada, talvez.




Escrito por Alex Menezes às 00h07


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