Segundo nos dá a saber a inglesa Viviane Forrester, "Van Gogh queria se calar em todas as línguas do mundo", com o claro objetivo de querer ser escutado, suponho.
Paralela a essa dor do poeta holandês, deduzo sem concluir, que a dor, depois da hipocrisia, é o maior patrimônio da história da humanidade.
Por assim, não à toa, um poeta febril, assim escreveu:
“Aliás, (…) se forem contadas as horas de agonia deste mundo, quantos séculos darão?”
Quantos? Dez séculos é razoável para você? Que tal todos?
Equação impossível de ser auferida, mas possível de ser sentida, prova final e eloquente da supremacia do coração sobre a matemática.
Para então burlar a dor é que foi criada a melancolia, o único gênero de dor que afeta a parte externa do corpo e cuja cura reside dentro do paciente, fenômeno que pode ser identificado como a maior ironia conhecida na literatura médica.
O prazer, também usado para emular a dor, foi uma invenção desastrosa do ponto de vista clínico, vez que nenhum corpo está apto a suportar muito gozo, cujo efeito lateral é a fadiga, asa mortal da funesta ave da dor.
Daí o lamento de Van Gogh em calar-se para ser ouvido. Daí a reflexão para computar a quantidade de dor no mundo, o modo sabiamente cortês de humanizá-la, porque é sentindo-a dentro e fora da pele que nos tornamos humanos, ou, quando menos, toleráveis.
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