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Deus Não Abençoa Ninguém

Deus não abençoa ninguém. Nenhum deus. Nem aquele da tríade hindu; nem o clamoroso dos muçulmanos; nem o transcendente do xintoísmo; nem o grave judaico-cristão: nenhum. Eratostenes, sábio grego do século III a.C, com dois gravetos mediu com espantosa precisão a circunferência da Terra; talvez eu precise de uma floresta inteira de palavras para demonstrar, sem sucesso, que Deus não abençoa ninguém. Em toda e qualquer religião existe o conceito do “deus” justo. O princípio desse Ser superior é sempre o da Justiça, Sabedoria, Amor e não seria coerente a esse Ser dotado de tão nobres sentimentos permitir que tragédias acontecessem sendo que as poderia evitar. Me parece a imagem de um Ser sádico, caso a crença universal que crê no Deus que abençoa, salva e livra as pessoas de infortúnios, simplesmente escolhesse este ou aquele como preferido, livrando-o sempre, protegendo aquele que ele, com critérios abstratos, escolheu e adotou. É um equívoco. Eu acredito no Deus Supremo. Aquele que abarca todos de credos. Mas ele não abençoa ninguém. Há um turbilhão de exemplos; desde os fundadores de seitas que se valem da grife divina para faturar riquezas na terra e não são punidos até aos líderes nazistas que não obstante os horrendos crimes que praticaram, desfrutaram de uma vida pacata nos Alpes suíços ou nalguma periferia do terceiro mundo; ricos com o que pilharam de suas vítimas e anônimos. E Deus, como é o correto a se fazer, não interveio, nem intervirá jamais. O avião que caiu e desmanchou em ruínas uma família inteira junto com um bebê de dez meses na zona norte de São Paulo no último domingo é a prova insofismável (entre tantas outras milhões) de que Deus não abençoa ninguém. Que crime teria cometido a criança além do de nascer? Para Sófocles, não nascer era a maior de todas as dádivas. Se o Criador abençoasse alguém, teria livrado a criança que, na condição de criança, parece inculpe de qualquer pecado, embora que, para Kafka, a culpa seja sempre indubitável: ponto para o Deus-interventor.


Se Ele abençoasse alguém não haveria nos leitos de hospitais gente de boa índole e excelente fé, (como há) e no outro lado dessa moeda perversa chamada mundo, traiçoeiros notórios, bandidos de alta estirpe, saboreando o manjar ímpar que é viver sem afetação. Existem muitos desses que não provarão um único dissabor antes de entrarem no ventre da terra. Deus não se responsabiliza pelos atos dos homens. Como o proprietário do imóvel que aluga sua casa, a preço módico, para um inquilino nocivo, esse locador não tem qualquer culpa pelas ações irresponsáveis daquele que é o locatário, e danifica o lar e a sua vida. O homem é essencialmente mal.

Tomemos como base o mito - para alguns - e a fé, para outros, de que sim, houve um Adão e uma Eva: raciocinemos:

O casal se rebelou no Éden, o Criador desfez o contrato que havia feito com a humanidade. Dali para frente, os homens estavam entregues à própria sorte. Os primeiros humanos romperam a principal cláusula do contrato – a obediência, e o preço pago por aquela longínqua atitude é a infinda série de tragédias que acompanham a civilização. Naturalmente, segundo promessa bíblica, o próprio Criador porá termo a essa aparente tragédia sem fim. Até que esse dia chegue, muito ranger de dentes, choro e gemidos se ouvirão nos quatros pontos do globo, desde a facada anônima que ceifa a vida de um indigente à catástrofe de um tsunami que devora 225 mil pessoas numa única bocada; aproveitando o vasto número de vítimas deste evento, creio incorreto não haver entre tantos uma meia dúzia de “escolhidos” pelo Criador. Escrito por Alex Menezes às 23h37

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