Se há uma coisa que eu não suporto é ver um malfeitor em apuros. Não gosto. Fico bastante aborrecido, a ponto de me desmanchar em lágrimas de madeira, já que a minha cara é pau. Quem é que não gosta de uma pena bem aplicada no ombro alheio? Eu mesmo gosto e, quando posso, aplico.
Os meninos cariocas (“casa de branco” em tupi!) que espancaram a doméstica Sirlei estão aí para me dar uma penca de razão. Um dos pais dos garotinhos marginais da classe alta do Brejo de Janeiro escancarou esta frase:
- Não é justo manter presas crianças que estão na faculdade.
Se meu filho cometesse uma miséria dessas contra um inocente indefeso (de forma gratuita) eu também o perdoaria. Talvez o premiasse. Quem sabe uma viagem à Disney? Um vídeo game violento, um carro novo se ele já tiver 15 anos, sei lá. Calvin, criação de Bill Watterson publicado em tiras diariamente no Estadão é o meu modelo de criança a ser educada; dia desses, enquanto ele vasculhava a despensa:
- Mãe, precisar ir ao mercado urgente! Acabou a pólvora desta casa!
Naturalmente, os leitores vão farejar uma nota de ironia da minha parte. Quê? Premiar um delinqüente? Premio sim. Sem rancor. Sem prejuízo à consciência. Tudo é questão de flexionar o verbo para sacar dele a verdade, para que flua a inocência escondida na toca vernacular.
Eu delinquo, ele delinqüe, nós delinqüimos vos delinqüis. Eu perdôo, ele perdoa, vos perdoais. Como? Não perdoa? Vê-se que você é uma má sujeita. Se você não é cristã, desconhece a ética paternalista protestante, deixe-me lhe informar: perdoar é preciso. Feche os olhos para a opinião alheia porque ela só incomoda de leve, feito aquela mosca teimosa, mas não pousa no coração.
Por mais espúria e nojosa que seja a ação do seu pirralho, não se avexe nem lhe suprima a mesada. Dê-lhe um cartão de crédito do Banco Real e saboreie como seu o sucesso dele entre as garotas na cantina da escola. Diga ao seu filho imberbe que podemos sem dores de parto ou de bolso lotar um estádio com 45 mil pessoas para um clássico de futebol mas não levamos nem 3 (unidades) para destituir um senador ou síndico com veladas inclinações ratonianas. Crescido sob a égide desta nova era do comportamento social, seu bebêi-ra-mar verá como sociopatia quaisquer (que palavra!, faz plural no meio!) atitudes de cunho ético, honesto, probo, ilibado e toda essa baboseira que só faz empacar o avanço da civilização.
Escrito por Alex Menezes às 23h43
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