Entre as tantas personagens notáveis da literatura, destaquei as três aí do título. (gibi também é literatura, das boas!)
Capitu e seus olhos de “cigana oblíqua e dissimulada” ou “de ressaca”, que não sabemos se é ressaca de porre ou a ressaca do mar e mesmo essa dúvida lhe cai bem, tão duvidosa sua natureza é.
A Emília é outra enigma. Tanto que quando a série televisiva voltou a ser exibida, alguns críticos acharam arriscado colocar uma criança para fazer o papel da boneca falante, ignorando o fato de que criança é também uma personagem complexa.
Cebolinha é tudo o que se espera de um anti-herói. Algo me diz que além de amar a Mônica e seus dentes sobressalentes tem lá sua tara pelo masoquismo; apanha, mas nunca desiste. Aquilo de trocar o R pelo L é um charme que faz dele uma coisinha especial. Ele é o tatibitate mais querido do Brasil. É o único da tulma que usa sapatos. Os demais são descalços.
Não são raros os casos das personagens que ofuscam seu criador. É o caso de “Dom Quixote” (“no soy loco! no soy loco!”).
Miguel de Cervantes Saavedra e este sobrenome que lembra deserto torna-se menor diante do ingênuo e idealista herói de um dos livros mais lidos do mundo – só perde para a Bíblia. A particular, de quem mais gosto no livro é do pangaré Roncinante que Quixote monta orgulhoso e que sua fértil imaginação transforma num possante corcel.
Machado, Lobato e Maurício de Souza não conseguiram essa façanha ao contrário. Os três são maiores que suas criaturas. O que encanta e fascina nessas vidas inventadas são suas motivações para agir assim de modo quase obscuro:
O que motiva Cebolinha a sempre apanhar da Mônica?
O que motiva Capitu a ser a personificação da dissimulação?
O que motiva Emília a querer esgotar o mundo dentro de si?
Nem seus autores têm autoridade para avaliar tais motivações, pois uma vez criadas, as criaturas ganham autonomia e vida própria, cabendo apenas a olhos alheios a melhor interpretação particular que a imaginação pode proporcionar.
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