É corrente entre os pessimistas que as hostes que abrigam os otimistas ainda estão de pé apenas porque seus membros são desinformados. Formulei mal o adágio. Em português fluente e claro, quis dizer que o otimista é apenas um sujeito mal informado. Não sei se a ideia merece uma emenda, mas, raciocine comigo, se as Constituições de Bolívia e Venezuela, objetos aparentemente mais importantes do que minhas ideias ocas, vivem sofrendo remendos, por que eu ficaria de fora da festa?
O físico britânico Stephen Hawking quer apostar U$100 que a mega experiência científica (LHC) na fronteira entre Suíça e França não irá descobrir o Bóson de Higgs; mais uma vez, em português acessível, "a partícula de Deus", elemento primaz que daria ao homem a chave do mistério do nascimento do Universo e, enfim, da nossa origem.
Eu particularmente fico espantado. Se não descobrimos a origem, sei lá, do Nilo, ou --- vá lá, para quê ir tão longe --- do Rio Tietê, ou pelo menos do seu odor, como poderemos querer saber da origem do Universo? A FAO (Food and Agriculture Organization), órgão da ONU que cuida da agricultura no mundo, acabou de divulgar que 925 milhões de pessoas não têm meios de preencher o simples vácuo do próprio bucho, algo menorzinho que o espaço espacial. Eu, como bom pessimista, percebo esse numeral moderado e inconclusivo; deve ser muito mais.
Os governos europeus, americanos e asiáticos injetaram este ano 700 bilhões de dólares na Economia para salvar empresas privadas mal gerenciadas (corruptas?) e seus diretores imprudentes; a previsão orçamentária mundial para a área militar em 2008 é da ordem de 1,3 trilhões de dólares. Mas não há comida para 1 bilhão de terráqueos. Um repto; comida há, o que não há é cooperação do voraz capitalismo, e demais ismos, tão populares quanto nocivos.
Mas queremos engolir o Universo com nossa astúcia. Valei-me, Deus! E se descobrirmos como se deu a origem do Todo, o que faremos com ela? Sanados não estarão os problemas, receio. Mas o orgulho da raça superior estará lapidado em dó maior. Todos sabemos que o orgulho, se não enche barriga alguma, enche o ego, que também é uma espécie de barriga, só que mais acima --- e mais gulosa.
Se eu fosse Deus (e se Deus quiser, um dia vou ser Deus), acabaria com isso logo; entrava em cadeia de rádio e TV ou usava outro veículo assim, mais celestial, e acabava com toda essa especulação infernal (perdão!); informava aos homens os métodos empregados na engenharia do mundo e lhos daria o croqui e a planta, os princípios arquitetônicos etc.; só não lhes diria onde foram comprados os insumos, porque aí já é demais. Método e meio explicados, elencaria com pormenores divinais a escala na produção da matéria, dos gases raros, do arco-íris, dos seres vivos, da criação dos partidos políticos e como se deu o primeiro caso de corrupção estatal, quero dizer, celestial.
Tudo assim explicadinho, mastigadinho, folgaria o homem em saber de Tudo, ponto que julgo mui correto e direito. Uma fofoca histórica diz que César quis saber de onde teria surgido, queria ver o ambiente onde nascera; simples: de forma muito cortês e delicada, mandou fazer uma incisão no ventre duma grávida; daí o "cesariana". Mas, repito, é só uma fofoca. E Deus sabe o valor duma fofoca, ainda mais em países novos e inquietos como o nosso. O dia em que o homem ficar ciente de como surgiu, o mundo acaba. É bom que permaneça ignorante, assim vai compondo os atos mais doces e solenes deste teatro macabro: um bocado de dinheiro para socorrer bandidos de terno ali, e escassez de comida acolá... Com um enredo destes, quem precisa saber da origem de alguma coisa? Viva a ignorança!
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