Um político no Japão deu cabo da própria vida ao ser descoberto aliviando o Erário, esse ente tão mansinho e melífluo que faz homens de toda espécie perderem a cabeça; e deve ser mais sedutor do que aquele outro cobiçado ente retilíneo, sinuoso, internacionalmente reconhecido pela protuberância gêmea que o adorna, e que ao todo lembra um instrumento de cordas. Difícil identificar qual de ambos é o mais estrepitoso e ameaçador da paz do lar e da nação.
Em países de forte tradição de valores morais, cometer um deslize público equivale a um acinte na biografia não pessoal, mas na familiar. Do lado de baixo da linha que divide o globo, a coisa é diferente. Percebo um certo ar de escárnio no “aliviador erariano”. Ele sorri por dentro. Goza de um prazer perto do prazer orgásmico. O sonho de todo corrupto tupiniquim é ser pego em flagrante. Conta pontos na biografia.
Não creio num ladravaz brasileiro em coma ou comoção por ser surpreendido num delito tão trivial e tão entranhado na nossa eterna alma de colonizados: impossível esculpir um novo caráter num tão hostil corpo, modelado em meio a vícios burgueses e chanchadas nas caravelas.
Excelentes são os exemplos vindos do exterior, e mais particularmente do país nipônico, lugar em que os corruptos têm hombridade tipo exportação, prova insofismável de que o crime e a honra habitam numa boa o mesmo corpo, dividindo o loteamento como se fosse um condomínio.
Os ideais republicanos (nos quais jamais cri) são manchados e violados a cada instante, e assim o será por todo o sempre, porque os políticos sempre poderão contar com nossa inércia e compreensão.
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