“Não é admirável viver com grande coragem e morrer deixando uma fama eterna?”, eu não sou tão corajoso quanto o guerreiro que proferiu estas palavras; aliás sou um medrosildo de marca maior. Dia desses, cheguei da escola e, consumida a rotina de tomar banho, comer algo quando algo há, escrever, e a etc, acendi a TV e dentro dela rodava um filme de terror, desses macabros, cabeças cortadas, o assassino mais malvado que a malvadeza. Corri para a cama em pânico.
Assino uma revista quinzenal. Ela chegou neste dia, embrulhada como algo secreto: não tinha ainda visto a matéria. Deitei na cama, e antes de fazer aqueles pedidos manjados ao Deus do céu, caí na besteira de desembrulhar a revista, a matéria de capa? ""ESPÍRITOS" uma moça, o figurino fantasmagórico, ilustrava a capa. Como é que dorme agora? Para tentar enganar o cérebro, folheei a revista com desânimo e tremedeira, de trás para frente, como quem recusa a injeção iminente; fechei a revista e tentei dormir.
Quando estava repleto de gente por toda a parte, li a matéria que é amedrontadora a sos (não confundir sos com S.O.S). Interessante, super. Os mitos que cercam os “fenômenos paranormais” careciam mesmo dum deslinde por parte de uma publicação séria. Eu erro, não é um deslinde e sim uma tentativa de.
Tais fenômenos estão na literatura desde tempos imemoriais. Explicação não há. Gente que fala com mortos, que vê espectros, não raro é tratada como doida. A revista teve o cuidado de mencionar uma pesquisa curiosa que “estudou” as pessoas que vêem e falam com falecidos: 46,5% deles têm curso superior; e apenas 2,7% estavam desempregados: esforço para provar que a “demência” não é privilégio de analfabetos nem desempregados. Ou, nas palavras do psiquiatra: “Esses dados mostram que não são pessoas desajustadas socialmente”. Ah bom...
Eu nunca vi espíritos, espero continuar virgem de os ver. Só acho que, se eles de fato existirem, proprietários de corpos imateriais, não iriam ficar por aí sem toa, aborrecendo e assustando os viventes, que já têm muito com o que se assustar e se aborrecer neste plano terreno. Corpo imaterial pressupõe leveza; leveza casa com velocidade, esta com possibilidades: eis a fórmula básica para viajar pelo Universo: com tantas galáxias para se explorar, por que os insignes ex-vivos vão querer continuar a ver o que já viram quando vivos estavam?
Eu não; quando for convertido em espírito quero flutuar pelas estrelas, inspecionar se os dias de Júpiter são mesmo desiguais como dizem os astrônomos, passar a primavera sideral numa estação em Andrômeda, vasculhar a imensidão espacial sem pressa nem medo de me perder. Quando eu bater os tênis e partir desta para uma melhor (amém) e alguém disser que me viu ou falou comigo, já aviso logo em vida: não sou eu!, terei coisa melhor para fazer na eternidade do que assombrar (ou ajudar) amigos e inimigos que podem muito bem se arranjar sem mim. Até!
Kommentare