Cada dia eu quero uma coisa; uma vez é renomear lugares e nozes, outra é falar mal do poder constituído; hoje eu quero conquistar o mundo. Quero-o para mim. Com tudo que nele há: tesouros, bibliotecas, arenas políticas, cemitérios, orquidários, fábricas de cola e de naftalina, árvores frutíferas: tudo. Pode entrar no inventário até as coisas incorpóreas, porém úteis, como as fogueiras cheias de vaidades, a aflição dos torcedores de futebol e até coisas aparentemente comezinhas, como a patente do sujeito que inventou o alfinete com a cabeça. Quero incluir também a água mineral que é a coqueluche entre os ricos/famosos do EUA: a água Bling H2o, 50 dólares a garrafa de 750ml. Não posso ficar desidratado no meu novo mundo.--> www.blingh2o.com/store veja se não é um luxo a garrafa adornada com cristais.
Quero dominar tudo isso aí. Das pessoas só irei querer suas emoções; dispenso seus corpos e vícios; humanamente falando isso é um gesto de hombridade. Por contato íntimo com a História e a história dos grandes conquistadores, não quero repetir seus erros, como o de infundir nas suas ambições, querer dominar os homens através do chicote, por meio de leis, através de carinhos, ou por meio de CPMFs.
Quero ser um rei sem súditos. Não haverá a quem aborrecer ou ser aborrecível para alguém; um reino desprovido de súditos terá a chance impossível, até essa minha descoberta, de durar para sempre, ou acompanhar o tempo, que um dia terá, o próprio tempo dirá, o seu final, não digo que seja um fim apoteótico; o tempo quando se aposentar do tempo levará muita mágoa consigo, muito rancor para depurar na ociosidade que deve ser o vácuo que tem como CEP o e=m2; fico a pensar como deverá ser, mesmo para um sujeito paciente e pacífico como o Sr. Tempo, ficar impregnado de tanto mal, tanto tédio, por uma soma de séculos tão extensa que remonta desde as eras em que ele era apenas milésimos, centésimos de segundo; para o Tempo virar um segundo calculo que deve ter sido consumida umas infindáveis toneladas de energia, e tudo isso para ele crescer e ser e ter apenas um segundo de vida; imagine o que se consumiu para ele chegar até aqui, um senhor imponente, de idade matematicamente impossível de calcular.
Adeus, tempo. Como é só um delírio a idéia de conseguir o mundo inteiro para mim, para talvez rearranjá-lo com os meus vícios, sua ação sempre implacável irá abortar meu plano, disfarçado na embalagem da alucinação. Se até mesmo o tempo se desmancha em lamúrias e outorga seu próprio fim, talvez por não suportar essa fase, assaz curta, é verdade, em que o homem foi introduzido na história, que dirá eu que dou minha contribuição diária para torná-lo amargo como o diabo.
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