Hoje é 12 de junho; amanhã, treze. Fui admoestado por 3 ou quatro e-mails de leitores imprudentes, para que escrevesse sobre o Dia dos Namorados; outra meia dúzia de 2 ou 3 e-mails me pediram para falar sobre as falcatruas do presidente do Senado, Renan Calheiros, mas cá para nós: dias dos namorados são modorrentos para os solteiros e demais ocorrem todo ano; já Renans bandoleiros nunca irão faltar para dar livre curso à minha irania (mistura de ira com ironia).
Jan Grzebski. Culpe-o, leitor. Defenestre-o janela afora. Pragueje-o por lhe privar dumas palavras ocas sobre o Renan e outras cheias de vazio sobre namorados e namoradas, exceto se sua namorada for a Adriane Galisteu, por óbvio. A culpa é dele. Esse camarada polonês, conterrâneo de Marie Curie e Nicolau Copérnico (cada país tem o Nicolau que merece), é protagonista de um fato digno de cinematografia. Entrou em coma em 1988 e resolveu sair dela em 2007: Dezenove Anos de Solidão; mais 81 anos e iria competir com a obra-prima de Gabriel Garcia Márquez que, aliás, completa 40 anos de vida este ano.
Foi um impacto. Dormiu com uma Polônia satélite da então URSS, acordou com ela ancorada nas benesses da livre iniciativa, liberalismo econômico, regime de autogestão ou como queira chamar esse bicho feroz chamado capitalismo.
Sua retina, supurada pelas novidades, terá de ser tratada. iPods, celulares, notebooks, Internet, tudo isso lhe causou imensa impressão. Até a carne em abundância nos supermercados lhe comoveu o espírito, que parece que voltou da década de 80 algo sensível ao diabo do consumismo, que é também uma forma de patologia humana tratada com doses homeopáticas de cartão de crédito e saldo devedor. Mas o que mais o Sr. Grzebski gostou foi de poder falar mal dos políticos sem precisar ir para a Sibéria lapidar icebergs. Isso é um pouco Renan. Outro pouco, para saciar leitores convenientes e não deixá-los irados, virá logo abaixo, se a paciência e o relógio de ponto assim o permitir.
A sorte do homem foi ter uma mulher de fibra; fibra e mais que fibra: fibra de aço e amor de diamante. Dado como caso perdido pelos médicos (alguns já morreram, presumo), o simpático polonês, imobilizado numa cama, era, a cada hora, mudado de posição para evitar lesões corporais pela esposa diligente e mais amiga do que a de Jó; ela montou uma verdadeira mini UTI em casa, esperançosa da recuperação do marido. 19 X 365 dá 6935 dias. Para ela, foram 6935 dias dos namorados, e continua. Espero assim ter agradado a indignados e românticos, essa espécie rara, mas inextinguível, como a esperança da Sra. Sopa de Consoantes.
Escrito por Alex Menezes, às 22h07.
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