Já se disse que nenhum ficcionista poderia criar algo pior que a realidade e a sucessão de dias nos dá prova dessa verdade imperiosa. Diante de Tróia, Homero enfiou um monte de dúvidas na cabeça de Aquiles; Lady Mcbeth enxerga austera as manchas de sangue por toda parte; etc. Mas nenhum autor ousaria escrever uma cena de um menino sendo arrastado por um carro (ok, ok, Aquiles arrastou o corpo de Heitor em volta de Tróia, mas Heitor era guerreiro e o menino não) ou queimar gente inocente em ônibus. Queria ver um escritor imaginar isto:
Liza Novak, capitã da Marinha americana e astronauta nas horas sem vaga, mãe de três filhos e casada protagonizou um lance desses de deixar em suspenso a respiração: desconfiada de que havia um três ângulos amoroso entre ela, o comandante William e a também capitã Sra. Shipman, ela pegou seu carro e viajou por 1500 Km (se quilômetro se escreve com “Q” porque é abreviado com K?) munida de “instrumentos mortais” conforme noticiou a BBC Brasil, para dar um chega-pra-lá na rival.
Por óbvio que isso nada é: eu também tomaria um carro e sairia de déu em déu não por 1500, mas 9000 milhas em busca de um amor fugidio e faria o percurso até a pé, caso não houvesse estrada que me levasse ao coração de destino. O extraordinário neste episódio não foi a viagem em si, mas um detalhe curioso porque interessante: a “juliética” Liza usou durante o percurso uma “fralda de astronauta” para que não precisasse parar para aquele providencial xixizinho de estrada, percebeu o requinte? Naturalmente, a Nasa não informou se o carro usado pela moça era do tipo espacial, desses que rodam 1500 Qm sem precisar abastecer, detalhe insignificante diante da urgência do amor.
Todos fazem tudo por amor: “Há pouquíssimas coisas na vida que desejamos tanto quanto estar ligado a alguém que amamos”, disse um psicólogo de New York, ouvido sobre o caso de Liza. “Ele vence o desejo pela riqueza, pelo poder e até pela vida”, concluiu. Vence mesmo, quem já não se viu nocauteado por esse boxeador exímio que não usa luvas?
Eu, se estivesse incumbido de escrever esta história, imaginaria a astronauta tomando de assalto o Ônibus Espacial, devidamente equipado com ogivas nucleares capazes de aniquilar a civilização; ela sobrevoaria os céus do EUA perseguida por caças ultra-sônicos os pilotos atônitos, sem o poder derrubar; a CNN a postos, ela pairaria com a nave em frente a casa da rival e diria num alto falante: “Nunca mais se interponha entre mim e meu amor, sua enxerida!”, apertaria o botão e cataplawer! Game over para nós. – Eu poderia imaginar tudo isso, menos uma fralda no caminho.
Escrito por Alex Menezes às 04h55
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